
Por isso nada nos faz tão feliz como alguém que se aproxima de nós com uma caixa de máscaras exóticas e então nos apresenta os exemplares mais raros, a máscara do assassino, do magnata das finanças, do circunavegador. Olhar através delas nos encanta. Vemos as constelações, os instantes, nos quais fomos verdadeiramente um ou outro, ou todos de uma vez. Todos nós alimentamos este jogo de máscaras como êxtase, e disso vivem até hoje os cartomantes, os quiromantes e astrólogos. Sabem nos remontar para uma daquelas pausas silenciosas do destino que, só mais tarde, se observa que continham o gérmen do traçado do destino totalmente diferente daquele que nos foi concedido. Que o destino pare assim como um coração – isso percebemos com um medo profundo e bem-aventurado, naquelas aparentemente tão mesquinhas, aparentemente tão errôneas imagens características de nós mesmos que o charlatão nos contrapõe. E tanto mais nos apressamos em lhe dar razão quanto mais sedentas sentimos subir em nós as sombras de vidas nunca vividas.
Walter Benjamin. Rua de Mão Única, p. 212.