01/09/2013

as cidades também morrem

O autor, no limiar da velhice, vivenciou um daqueles momentos em que o homem, refletindo sobre a vida passada, vê refletida em tudo a própria melancolia. A pequena redução de sua acuidade visual, de que o convencera a consulta ao oculista, trouxe-lhe à memória... a lei da inevitável caducidade de todas as coisas humanas. A ele, que viajara pelos confins do Oriente, que era versado em desertos, cuja areia era a poeira dos mortos, subitamente veio a ideia de que também a cidade rugindo à sua volta deveria morrer um dia como tantas capitais... morreram. Ocorreu-lhe quão extraordinário seria o nosso interesse hoje por uma descrição exata de Atenas no tempo dos Ptolomeus, de Roma no tempo dos Césares... Graças a uma inspiração fulminante, que às vezes nos fornece um tema fora do comum, concebeu o plano de escrever sobre Paris o livro que os historiadores da antiguidade não haviam escrito sobre as próprias cidades... A obra de sua idade madura apareceu diante de sua visão anterior.
Maxime du Camp, 1862.

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