27/07/2010

angustus

O homem caminhava pela estrada.
Pela estrada com pés descalços.
Com pés descalços e a roupa rasgada.
O chapéu do homem fazia sombra.
A sombra a cobrir seu rosto.
Seu rosto ninguém enxergava.


A passagem do homem é um labirinto sem muros.
Dentre unhas e dedos, o vermelho em pó.
Descalças, a n d a r i l h a v a m  
a s  d a t i l o g r a f i a s


Dedo ante dedo; ser anti-ser; pé ante pé.





A trilha é turva, o chão é de barro.
Os pés são descalços e ele caminha
De leve, com as solas chapadas
Fritando a estrada; fitando os nadas.


O homem é turvo.
O caminho é de sombras.
O chapéu é rasgado.
E o chão é de pés.


E assim é que é,
pois é assim que quer
quem escreve; não quem anda:
não quem simplesmente quer.


Quem faz poesia, poeta.
Quem caminha, procura.
Quem passeia, passagem.
Quem inventa, loucura.


E quem cria animais falantes
não é caminhante.
Pois percorre sentado
a odisséia que é
gozar a doidice
de falar sendo mundo.
Bem como seria,
no escuro do mundo,
com abafados sussurros,
deflorar as vertigens
que o fazem... Angustus.


Desbotar os invernos...
Vaguear por paisagens...


Esfregar nas pernas o barro dos pés;
Soprar ventos de vida nos magros papéis.


Sozinhar com caneta que pinga
uma estória eufórica sobre o Destino.
Chegar sem nunca ter ido,
escrever e nunca ser lido.

5 comentários:

VICTOR CAMPOS disse...

Quem nos faz?
Quantos nos fazem?

Que vontade nos conduz?

Que partes compõem esta manticora?

De todo modo, vale dizer há beleza em pequenas coisas, e talvez, de que só talvez, em pequenas coisas encontramos grandes belezas, em pequenos gigantes que passam a legitimar a existência.

Állyssen disse...

Putz!
Adorei a doidice!
Será que um dia eu consigo fazer assim?

Bejoquinhas! =)

Joelma B. disse...

Seu blog não aparece atualizado em minha lista...
A curiosidade me trouxe aqui...

Que bom que vim...

Deparei-me com esta bela tecitura de sentir...

Abraço!

Flor de Lótus disse...

Amigo!!! Vc é imbatível!!! Uma delícia te visitar!!!!

Anônimo disse...

como sempre surpresa irreverente dos teus versos.
(Caótica)

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