A imaginação vive à margem da razão e da realidade. E estar à margem é estar dentro, mas pelas beiradas, num ritmo diferente. Na margem se segue o desaguar incessante do flúmem; suas marés, seu fluir, seu continuum. Não se passa impune às cheias e às baixas, mas se é afetado de modo diferente: embora dentro, estar à margem permite ver em perspectiva; dentre pedras, lodo e madeiras, tudo passa em outra cronometragem. Nas margens do rio calmo e limpo se achegam o pescador em busca do alimento, o animal para matar a sede, as lavadeiras, e crianças com barcos de papel. Nas do poluído, é o lixo que se acumula. De qualquer modo, são as margens que delimitam a largura do rio, no encontro da água com a terra. A imaginação dá a dimensão, a profundidade, o volume do real.
2 comentários:
A margem parece mais parada, mas se olhar de pertinho ela caminha num ritmo diferente...
Aliás, nas beiradas é que ficam aqueles mosquitinhos chatos... que eu tanto evito ao adentrar a água... chega a ser repugnante aqueles insetos se reproduzindo ali.
Por que é que tanto evitamos o contato com a margem e queremos logo enfiar os pés e corpo inteiro o mais próximo possível do meio?
Vai saber...
Só sei que gostei muito do texto e se to falando que gostei é porque ficou muito bom, podes crer!
=p
Quem diria remar contra a corrente é sempre mais agradável, se não chega de fato a agradar, apresenta-se muito bem como um desconforto aconchegante.
Enfim coerência na lagoa do infinito:
Há limites para o inimaginável, lá esta a margem a delimitar o mais profundo dos sonhos.
Talvez a surpreza esteja em nossa incompreensão?
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