Adorniando...

O arquiteto introvertido do pensamento mora por detrás da lua confiscada pelos técnicos extrovertidos. Em face da sociedade dilatada de modo desmedido e dos progressos do conhecimento positivo da natureza, os edifícios conceituais [...] assemelham-se aos restos da simples economia de mercado em meio ao capitalismo industrial tardio.

fotografia: Thiago Xavier // Olhares.com

Nenhuma teoria escapa mais ao mercado: cada uma é oferecida como possível dentre as opiniões concorrentes; tudo pode ser escolhido, tudo é absorvido.

Com o enfraquecimento da força especulativa e o desenvolvimento correlato das ciências particulares, essa contraposição [liberdade x não-liberdade] se acentuou ao extremo. As ciências particulares pagaram por isso com a sua estreiteza, a filosofia com um vazio desprovido de obrigatoriedade. Quanto mais as ciências se apossaram do conteúdo da filosofia, tanto mais os filosofemas sobre a liberdade da vontade foram definhando de maneira constrangedora e se transformando em meras declamações.

Mas não se deve aceitar como uma fatalidade o fato de a liberdade envelhecer sem ser realizada. [...] O mal não está no fato de homens livres poderem agir de maneira radicalmente má, [...] mas no fato de ainda não haver nenhum mundo no qual homens livres não precisem ser maus.

ADORNO,T. W. Dialética Negativa. 2009. p. 11-12-181-182-185