16/02/2011

a realidade é uma ficção

... e a ficção, decerto, real.


O que é humano só o é por que ficção. Fictio, fictum, fingire, fingir, fazer-de-conta, fabular: eis a habilidade, o dom, ou o fardo, que distingue o anthropos – o ser sem-lugar – no mundo. Ficcionar, palavra ligada etimologicamente à figura do figulus, o oleiro, é o ato e movimento de criar a partir de algo; a ficção: criação a partir do real – mas também com e do real. Pois, se por um lado a res fictae só faz sentido para o humano, por outro, é ela que dá Sentido à sua existência, já que a realidade, per se, ding an sich, em si mesma, é vazia, e, disse Nietzsche, digna de uma homérica gargalhada. O real tem sentido e Sentido na medida em que envolve valores, emoções, ambições, expectativas e frustrações, ou seja, na medida em que humano: e mais, na medida em que discurso; pois é pelo discurso (e pelos discursos) que o homem, animal do logos, cria e organiza o mundo, tal qual o oleiro, dando forma ao que é percebido, mas bruto. O que é humano, pois, o é por que faz e tem Sentido. A ficção, dimensão do que é do homem (e) para o homem, nunca abandona a realidade, e, longe de ser sua antagonista, é companheira inseparável: sua mãe e sua filha, já que dela parte e a ela retorna, produzindo e reproduzindo, construindo e desconstruindo Sentidos, colorindo e dando ânimo ao mundo e à existência.

2 comentários:

dani carrara disse...

gostei demais.

moldar o barro áspero
com uma técnica

transformar

eu sempre moldo um ovo com argila para inventar minha calma

Camila disse...

Suas reflexões são maravilhosas...Só remexendo nos seus rabiscos... rs.. Um abraço =)

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