Numa sociedade marcada pelo princípio da utilidade, pela instrumentalização do mundo dirigida a satisfações mercadológicas e a lógicas de produtividade, a palavra Utopia aparece cada vez mais associada à anti-produtividade, ao irreal, ao impossível. Àquele que se aventura em explorar possibilidades imaginárias, outros mundos melhores e mais justos, é presente a chamada de atenção à “realidade dos fatos”. Diz-se que “imagina coisas” aquele que mente; diz a professora ao aluno que “volte ao mundo real” e não se perca no “mundo das ideias”, e a rejeição ao sonho atravessa instituições e consciências desde a mais tenra idade. Não obstante, a Utopia é vista com desconfiança e desprezo pelo indivíduo reificado e funcional: ele não tem tempo a perder com o impossível.
Mas se a instrumental sociedade contemporânea pejora e marginaliza a Utopia, ela, em contrapartida, denuncia a não-liberdade dessa ordem, confrontando o instante a melhores possibilidades. [...]