O mundo político fechou-se pouco a pouco sobre si, sobre suas rivalidades internas, seus problemas e seus riscos próprios. Como os grandes tribunos, os políticos capazes de compreender e de exprimir as expectativas e as reivindicações de seus eleitores tornam-se cada vez mais raros e estão longe de estar no primeiro plano em suas formações. Os futuros dirigentes são designados nos debates de televisão ou nos conclaves. Os governantes são prisioneiros de um ambiente tranquilizante de jovens tecnocratas que frequentemente ignoram quase toda a vida cotidiana de seus concidadãos e a quem ninguém recorda sua ignorância. Os jornalistas, submetidos Às exigências que as pressões ou as censuras de poderes internos e externos fazem pesar sobre eles, e sobretudo a concorrência, portanto a urgência, que jamais favoreceu a reflexão, propõem muitas vezes, sobre os problemas mais candentes, descrições e análises apressadas, e amiúde imprudentes; e o efeito que produzem, tanto no universo intelectual como no universo político, é ainda mais pernicioso, às vezes, porque estão em condição de se fazer valer mutuamente e de controlar a circulação dos discursos concorrentes, como os da ciência social. Restam os intelectuais, cujo silêncio se deplora.
P. Bourdieu. A Miséria do Mundo, 1997, p. 733.
Um comentário:
Muito atual esse trecho. Eu fico abismada com a visão de futuro que esses filósofos tem. Alguma explicação para isso... são tão profetas!!
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pode escrever, não se encabule.