27/08/2014

sofrimento, poesia, alegria

Moacyr Félix
[...] para mim, o sofrimento é muito importante, o sofrimento existe como motivação na medida em que leva o homem a lutar consigo mesmo, ou seja, o homem é um ser que resulta da negação do não-ser na medida em que tem consciência daquilo que ele não é, ou não pode ser, ou do que pulsa dentro dele: a morte, o mistério, o acaso. Eu luto contra a dor para conquistar esse não-ser de que tenho consciência, ou seja, como diz Marx no quarto capítulo de O capital, somente o homem tem a consciência de que é necessário resgatar a humanidade de que o privaram. De repente ele se vê amputado do ser que ele devia ser e toma a consciência desse ser do qual foi exilado. Então ele passa a ser movido pela melancolia, a solidão, o desespero, o sofrimento. Toda a minha poesia é impulsionada por isso e, na medida em que sou impelido por isso, sonho com a utopia que o nosso Gullar chama de alegria, isto é, um sentimento de que seremos irmãos de nossos semelhantes e passaremos a viver em comunhão. Sendo assim, tomo-me cúmplice desse movimento que nos leva a fazer com que a alegria apareça dessa forma. 
Moacyr Félix, Poesia Sempre, ano 6, n. 9, 1998.

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